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Mulheres/Mães diante do Abuso
Incestuoso
Por Liliane Melo
As reflexões aqui trazidas emergiram do espaço de atendimento psicológico a crianças e adolescentes que sofreram situações de abuso sexual. Um lugar de tanto sofrimento que muitas vezes, profissionais habituados a lidar com a dor do outro, com essas pessoas se emociona. Nesses lugares, as situações abusivas trazem o incesto como violência sexual que detém uma incidência maior e o pai biológico ou social, como o maior praticante.
Observamos também que as denúncias partem em sua maioria, das mães dessas crianças. Assim, passo a descrever um trecho de uma história vivida por uma mulher que, dentre tantas outras, chamou-me a atenção. Talvez pela dor em um momento, pela idéia da família desfeita. Uma ferida exposta, com um pedido de ajuda:
Essa mulher chega ao atendimento psicológico para Orientação uma vez que ela vive uma experiência de abuso sexual incestuoso em série, ou seja, a situação abusiva que ocorre no mesmo espaço doméstico com pessoas diferentes. Nesse caso, são duas filhas e um pai incestuoso. A mulher entra em silêncio, senta e abre uma bolsa da qual retira um álbum de fotografia que contém registros de um tempo vivido em família. Uma vida em comum com um companheiro com quem havia casado há mais de 15 anos. Ela fala então sobre essa vida em comum e as expectativas que tinha do seu casamento realizado aos 18 anos de idade. Pára e olha as fotos e a psicóloga que está diante dela. Então, diz:
“eu queria que a senhora me explicasse isso que aconteceu. O que foi isso? Como eu não notei nada o tempo todo?”.
Uma história entre inúmeras que chegam quando se percorre um caminho de quebra de um segredo de família. São diversas, com um tema em comum, mas singulares nas suas formas de se representar nas vidas de quem experencia o incesto abusivo. As histórias trazem várias possibilidades de expressão de uma dor que se inscreve na alma.
Entendemos