TEORIA E ARGUMENAÇÃO
Evocações da terra tirada
Memória social e consciência política na tradição oral do índios Tremembé
GT Biografia e memória social
Maria Sylvia Porto Alegre
Universidade Federal do Ceará
23 a 27 de outubro de 2000
Petrópolis - Rio de Janeiro
Os índios Tremembé são contadores de histórias contumazes. A quantidade e variedade das narrativas que gostam de lembrar fica logo evidente a qualquer visitante que chegue a Almofala, povoado situado no município de Itarema, no litoral norte do estado do Ceará, disposto a conversar sobre assuntos que digam respeito ao passado da aldeia dos índios, cujos descendentes ali vivem.
A tradição oral tremembé abarca uma sequência de episódios que retrocedem à fundação da missão onde foram aldeados por missionários leigos, em 1702, e chegam até o presente, marcado pela luta em defesa da terra indígena e seu reconhecimento oficial pelo governo brasileiro (Porto Alegre, 1999 b).1 Os acontecimentos mais recuados no tempo falam na descoberta de uma imagem de ouro nas proximidades do rio Aracati-mirim e na ereção de uma pequena capela no local, em torno da qual cresceu o núcleo que deu origem ao povoado de Almofala. Depois foi construída a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Tremembé, que os próprios índios ergueram em substituição à pequena capela da santa e que lá permanece até hoje.2 São histórias do "tempo dos antigos", os "índios velhos", e suas primeiras experiências de convivência com o mundo dos brancos. Segundo dizem , a "terra do aldeamento" ou "terra da santa" foi doada aos índios pelos portugueses que ali se encontravam, mediante um acordo feito entre os índios e a rainha e Portugal, que envolveu a troca da imagem de ouro por uma outra, feita de madeira e a construção da igreja. A convicção de que as terras da antiga Missão dos Tremembé pertence aos índios é o leitmotiv de um grande número de narrativas. A demarcação