Teclados - teolinda gersão
A narrativa “Os Teclados” de Teolinda Gersão é um romance de formação, pois expõe de forma pormenorizada o processo de desenvolvimento físico, moral, psicológico e social da vida de Júlia, desde a sua infância até à adolescência. O título faz referencia ao teclado de um piano e ao teclado de um computador.
É través das relações que Júlia estabelece com quem vive, com os professores, com os amigos e com o teclado que se vai construindo como sujeito.
A obra inicia-se com a frase “Em criança ela rezara por Mozart” (GERSÃO, 1999, p. 9). A partir desta primeira frase, o romance anuncia qual a trajetória da obra, a música. A música em paralelismo com a literatura. Estão interligadas, porque tal como a linguagem, a música pode ser comum a um determinado grupo, mas cada um a entende e decifra de modo distinto. O piano, na vida de Júlia, não é somente um instrumento, mas uma via ao conhecimento e à própria liberdade. Além da música, o silêncio é também um elemento essencial na obra, e pode ser visto como um tempo repleto de significações.
A protagonista tem um conflito com o mundo, principalmente com o mundo onde vive, a sua casa. Mas não foge deste conflito, não procura uma vida fora de sua casa nem procura outro mundo. Esta personagem tem uma vida interior de interrogação e de procura. Interroga-se sobre o seu papel e procura o seu caminho individual, o seu caminho próprio.
O tio Octávio gosta de estar sentado no seu cadeirão, não admitindo ser interrompido, a ouvir Beethoven e desprezando Mozart, dizendo que este se encontra abaixo do primeiro degrau. Mas Júlia à noite reza pelo compositor, de quem a música poderia parecer fácil para quem não a sabe ouvir. Mas pelo contrário, quem a sabe ouvir percebe que a sua simplicidade é que a torna complexa. E ela sabe ouvir, tanto Mozart, como tudo o que a rodeia. Basta olhar para a pauta, para ouvir a música que lá está escrita, como se alguém dentro dela a tocasse. Até mesmo o silêncio fazia parte de ouvir