Teatro
Cena O ESPIÃO
Ei-los: os Senhores Professores estão aprendendo a marchar. O nazistinha puxalhes as orelhas e lhes ensina a posição de sentido. Cada aluno, um espião. Não precisam saber nada do mundo ou do universo. Mas é interessante informar: o que, de quem e quando. Aí vêm as criancinhas. Elas buscam o carrasco e o trazem para casa. Delatam o próprio pai, chamam-no traidor. E ficam olhando, quando levam o velho de mãos e pés algemados. Colônia, 1935. Tarde chuvosa de domingo. Homem, Mulher e Menino, depois do almoço.
A Empregada vem servir café.
Mulher – Pode deixar, Erna, eu mesma sirvo. Empregada – Está bem, Madame. Sai. Menino levantando os olhos do jornal – Todos os padres fazem isso, papai? Homem – Isso, o quê? Menino – O que está escrito aqui. Homem – O que é que você está lendo? Arranca-lhe o jornal da mão. Menino – Nosso Chefe-de-Grupo disse que nós todos podemos saber o que diz este jornal. Homem – Não me interessa o que diz o seu Chefe-de-Grupo. O que você pode ou não ler, decido eu. Mulher – Olhe aqui, Klaus-Heinrich, tome dez Pfennig e vá lá fora, comprar alguma coisa para você.
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Menino – Está chovendo! Apertando o rosto contra a vidraça, indeciso. Homem – Se não cessarem esses artigos sobre os processos contra os padres, vou cancelar a assinatura do jornal. Mulher – E que outro jornal vai assinar? Todos trazem a mesma coisa. Homem – Pois se todos os jornais trazem essas porcarias, vou parar de ler jornal. Não vou ficar ainda mais ignorante sobre o que vai pelo mundo. Mulher – Até que não é mau fazer esses expurgos. Homem – Que expurgos! Isso é pura política. Mulher – Para nós é indiferente. Somos protestantes. Homem – Mas para o povo não é indiferente. Eles nunca mais vão poder pensar numa sacristia sem se lembrar dessas infâmias. Mulher – Mas o que é que se pode esperar deles? Essas coisas acontecem. Homem – O que se pode esperar? Que eles olhem para o próprio telhado de vidro. Ouvi