teatro
ZULMIRA - Por obséquio. Eu queria falar com Madame Crisálida.
MADAME CRISÁLIDA - Consulta?
ZULMIRA - Sim.
MADAME CRISÁLIDA - Da parte de quem?
ZULMIRA - De uma moça assim, assim, que esteve aqui outro dia. (Madame, sempre acompanhada pelo garoto de dedo no nariz, abre a porta, a princípio, imaginária)
MADAME CRISÁLIDA - Sou eu. Vamos entrar.
(Zulmira entra, fechando o guarda-chuva.)
ZULMIRA - Com licença.
(Madame suspira.)
MADAME CRISÁLIDA - É preciso estar de olho. A polícia não é sopa. Outro dia fui emão!
ZULMIRA - Ora!
(Madame começa a embaralhar as cartas ensebadas.)
MADAME CRISÁLIDA - Quem tem criança, sabe como é!
ZULMIRA - Natural!
MADAME CRISÁLIDA - E as minhas são de arder!
(Barulho de criança. Madame ergue-se. Vai ao fundo da cena.)
MADAME CRISÁLIDA - Pintam o sete!
(Madame ergue-se outra vez.)
MADAME CRISÁLIDA - Deixei o aipim no fogo. Com licença.
ZULMIRA - Pois não.
(Madame berra para dentro.)
MADAME CRISÁLIDA - Vê essa panela, aí, Fulana!
(Madame senta-se, manipulando o baralho.)
MADAME CRISÁLIDA - Pronto.
ZULMIRA - Estou numa aflição muito grande, Madame Crisálida.
MADAME CRISÁLIDA - Silêncio!
(Madame inicia a sua concentração.)
MADAME CRISÁLIDA - Vejo, na sua vida, uma mulher.
ZULMIRA - Mulher?
MADAME CRISÁLIDA - Loura.
(Zulmira ergue-se atônita. Senta-se em seguida.)
ZULMIRA - Meu Deus do céu!
MADAME CRISÁLIDA - Cuidado com a mulher loura!
ZULMIRA - Que mais?
(Madame ergue-se. Muda de tom. Perde o sotaque.)
MADAME CRISÁLIDA - Cinquenta cruzeiros.
(Zulmira, atarantada, abre a bolsa, apanha a cédula, que entrega.) (Madame empurra-a na direção da porta.)
MADAME CRISÁLIDA - Passar bem.
ZULMIRA - Passar bem.
(Some a cartomante. Zulmira vai saindo, também, mas estaca, retrocedendo. Está de guarda-chuva aberto. Chama diante da porta imaginária.)
ZULMIRA - Madame! Madame!
(Nenhuma resposta. Pânico de Zulmira.)
ZULMIRA - Sou a maior errada de todos os tempos! Deixei de perguntar umas