teatro
Lionel Fischer
O Nascimento
Tudo se inicia na praça do velho mercado de Atenas, a mais importante cidade-Estado da Grécia no século VI a.C. Contra a vontade de Sólon, tirano e legislador eficaz mas nem sempre dedicado às sutilezas da sensibilidade, o povo preferiu acreditar em cada gesto de Téspis – um homem estranho, que ousava imitar os deuses e os homens. Grossa túnica nos ombros e tosca máscara sobre o rosto, Téspis desceu solene e grave os degraus do altar que improvisara sobre uma carroça. E sem esperar que os circundantes se refizessem do inesperado, afirmou: “Eu sou Dionísio”. Foi um sacrílego e surpreendente momento das festas que a tradição reservava ao deus da alegria; foi também o instante em que, pela primeira vez, um obscuro e arrogante grego se fez aceitar como deus de carne e osso pelos atenienses do mercado. E foi o começo de uma aventura espiritual que atravessaria os séculos, mesclando – à imagem do próprio homem – verdade e fantasia, riso e lágrimas: o nascimento do Teatro. No século seguinte, V a.C, quando a democracia se instalou na Grécia, começaram a ser organizados concursos que premiavam quem melhor falasse a sua linguagem e distraísse a multidão.
A Tragédia Grega
Na Atenas democrática do século V a.C, os grandes autores trágicos usariam de maneira mais racional, embora carregados de emoção, os elementos que Téspis de forma desorganizada, vislumbrara nas suas imitações. À túnica, à máscara, à luz das tochas e aos eventuais recursos de encenação improvisada incorporou-se a poesia como núcleo. Ao mesmo tempo, em substituição à pequena carroça de Téspis, implantou-se a grande plataforma fixa, um palco verdadeiro sobre o qual já se podia organizar um espetáculo, com atores, coro e arquibancadas, anualmente levantadas para um imenso público. Esse dimensionamento ganhou ainda maior proporção quando se escolheu um local para as representações: o terreno consagrado a