Tabacaria
Ao analisarmos o poema de Álvaro de Campos intitulado Tabacaria é impossível não concordar com o que José Augusto Seabra diz acerca do excesso de subjetivismo do poeta. No entanto, essa alta dosagem subjetiva em momento algum ocorre de modo disforme e caótica, pois Álvaro de Campos não deixa adormecido o poeta clássico que existe em sua estruturação artística. Tal afirmação é pertinente se observarmos que a poesia de Campos não abre mão de uma certa contenção formal e rigidez estética, mesmo nos momentos em que beira à explosão a subjetividade é regida por um rigoroso construtivismo poético.
A poética de Campos em Tabacaria se constitui como um jogo aberto e de relevante constância onde objetividade e subjetividade se interpenetram, tudo isso sempre atuando no plano da percepção sensorial. Assim como afirma Seabra, “ no ato da percepção sensorial o que interessa Campos é o sujeito da sensação e não o seu objeto”, pois o poeta encara a sensação subjetivamente, relegando tudo à indiferença. Para confirmar tal observação no poema em questão, basta seguir a linha evolutiva do poema, onde será possível constatar que após todo o conflito existencial,beirando a fenomenologia e se desdobrando em várias indagações filosóficas acerca do real e do que pode sentido dentro desse conceito, o poema é finalizado com o seguinte trecho:
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus, ó Esteves, e o universo
Reconstruiu-se-me se ideal nem esperança e do dono da tabacaria sorriu.
A partir disso é possível notar como toda a reflexão que ocorreu ao longo do poema se tornou inútil, restando apenas a reconstrução do universo sem ideal e esperança.
Tal particularidade do poema pode também ser observado à luz de outro conceito teórico utilizado por Seabra que é o de “gradação degressiva”. O crítico se utiliza de um trecho da Ode marítima para demonstrar como o poema segue uma curva descendente até desembocar num verso final de uma só palavra, realizando uma simples