Soledad

Ela parecia trazer consigo todas as preocupações do mundo. Seu andar carregava ansiedade, inquietação. Seus olhos cor de mel, puxados para verde claro, mostravam insegurança e timidez a ponto de estarem sempre baixos. Pouquíssimas vezes se ouviu sua voz doce e lírica, tão melódica e suave que até hoje não encontrei algo a que compará-la. Seu cabelo longo, de corte reto, lhe trazia um ar de certo peso. Não combinava com sua delicadeza e com seu belo vestido floral. Ah, o vestido floral! Não posso deixar de falar dele, até porque era o que a caracterizava. Quase ninguém sabia o nome dela, então a chamavam de “A menina do vestido floral”. Mas quatro anos depois descobri seu nome: Soledad. Em espanhol, a palavra “soledad” significa “solidão”. Talvez isso defina muitas coisas a respeito dessa moça carregada de mistérios, de quem não se sabia muito.
Agora vamos deixar de lado as descrições físicas, porque na verdade é o que menos importa. O importante é a essência, os valores, aquela parte que ninguém (ou quase ninguém) vê. Aquilo que é tão interior e cheio de mistérios que quase não se pode externar. Aliás, quem poderia imaginar que aquela menina tímida que usava um vestido floral, era uma médica cirurgiã? Eu já tinha visto Soledad no hospital universitário da cidade, mas pensei que ela estivesse fazendo algum trabalho voluntário – porque ela vivia ajudando os outros, discretamente, sem fazer alardes para que todos soubessem. Mas, espere um pouco: se ela já era formada em medicina, que idade ela tinha? Eu não arriscaria dizer que ela tinha mais de dezoito anos.
Ah, e não é só isso. Ela também era violinista, e por sinal, muito famosa nesse meio. Ela fez e ministrou cursos de violino em Moscou e em outras cidades russas. Ela já tocou em orquestras em Paris, Viena, Roma, Veneza e outras cidades europeias. Por causa disso, ela falava mais de seis idiomas diferentes, e seu nome era bastante conhecido na música erudita.
Eu me pergunto como uma pessoa com tantos talentos,