Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os que dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas - sentem prazer em ouvir o exame dos homens; eles próprios imitam-me muitas vezes; nessas ocasiões, metem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma multidão de pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem, quiçá nada Em conseqüência, os que eles examinam se exasperam contra mim e não contra si mesmos, e propalam que existe um tal Sócrates, (23d) um grande miserável, que corrompe a mocidade. Quando se lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder; não sabem, mas, para não mostrar seu embaraço, aduzem aquelas acusações contra todo filósofo, sempre à mão: "os fenômenos celestes – o que há sob a terra – a descrença dos deuses – o prevalecimento da razão mais fraca". Porque, suponho, não estariam dispostos a confessar a verdade: terem dado prova de que rugem saber, mas nada sabem. (23e) Como são ciosos de honrarias, tenazes, e numerosos, persuasivos no que dizem de mim por se confirmarem uns aos outros, não é de hoje que eles têm enchido vossosouvidos de calúnias assanhadas. Daí a razão de me atacarem Meleto, Ânito e Licão – tomando Meleto as dores dos poetas; (24a) Ânito, as dos artesãos e políticos; e Licão, as dos oradores. Dessarte, como dizia ao começar, eu ficaria surpreso se lograsse, em tão curto prazo, delir em vós os efeitos dessa calúnia assim avolumada. Aí tendes, Atenienses, a verdade; em meu discurso não vos oculto nada que tenha alguma importância, nada vos dissimulo. Sem embargo, sei que me estou tornando odioso por mais ou menos os mesmos motivos, o que comprova a verdade do que digo, que é mesmo essa a calúnia contra mim e são mesmo essas as suas causas. (24b) É o que haveis de descobrir, se investigardes agora ou mais tarde.
Sem dúvida, quer o negueis tu e Ânito, quer o afirmeis. (25c) Que bom para os