sociologia
José Flávio Bertero*
Resumo:
O autor faz um exame crítico da sociologia rural de José de Souza Martins e, ao inverso do que este postula, defende que formas não-capitalistas de produção são partes constitutivas da produção social. O campo não mais possui especificidade, regido que é pelas leis gerais do capital. Fato que inviabiliza a chamada questão agrária.
O problema
José de Souza Martins1 tem se destacado como sociólogo rural. É autor de uma expressiva obra sociológica sobre esse tema, tanto pelo seu volume como pela influência que exerce, no meio acadêmico e fora dele, mas acima de tudo, pela singularidade, pelo refinamento e caráter polêmico de suas idéias. Estas são as razões que me levam a estudá-lo ao longo da gestação de sua tese a respeito do campesinato brasileiro, a meu ver núcleo do seu pensamento sobre a questão agrária no país2.
Por camponês, Martins entende todo trabalhador não assalariado, que produz fundamentalmente para a subsistência própria e de membros da sua família, de cuja unidade de trabalho se vale para isso. Compreende diferentes categorias sociais, que vão desde pequenos proprietários e pequenos arrendatários até parceiros, colonos e posseiros, a maioria dos quais sem terra suficiente para trabalhar. Produto da expansão capitalista, o camponês está à margem dela. Só se conecta a ela via mercado, por meio do escoamento do excedente do trabalho, momento em que é extorquido e, logo, condenado à pobreza. É justamente isso que o une, a ponto de constituir uma comunidade, tamanho é o estreitamento
* Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina.
1. Professor do Departamento de Sociologia da USP.
2. Desde meados da década de 1990, Martins vem mudando de posição. Tornou-se crítico à
Comissão Pastoral da Terra e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, por terem alterado suas concepções, distanciando-se das suas origens.