SOBRE BOIS E MARRECOS
Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro franklin@bioqmed.ufrj.br Os sinais estão em toda parte. Alguns animais cujo desenvolvimento embrionário e vida subsequente se dão em contato com a água já estão em processo de extinção, como rãs e sapos. Outros em breve estarão extintos, como certos peixes de água doce, cujas frequentes mutações são corriqueiramente observadas por pesquisadores e pescadores. A água está contaminada para valer! O mais alarmante é o fato de a contaminação já atingir proporções globais, o que é revelado pela presença de compostos como o ácido ftálico em qualquer tipo de água analisada. Até os laboratórios de pesquisa, onde a água deve ser superpura, não conseguem se livrar totalmente desse ácido. Mesmo que a água seja destilada e deionizada várias vezes, os renitentes ftalatos lá permanecem, como o lembrete de um gigantesco descontrole em curso.
Para piorar, pode-se imaginar que os ftalatos não estão sozinhos, pois só constituem os marcadores detectáveis. Assim, podemos contar como quase certo que a água, da qual dependemos inteiramente, já contenha um nível basal e constante de matéria orgânica da qual não podemos nos livrar. De onde vêm os ftalatos? A resposta é fácil: da indústria química. O que surpreende, porém, é o produto que espalha essa contaminação. São os inocentes e práticos filmes de PVC, tão populares em cozinhas e supermercados. Os ftalatos conferem elasticidade e aderência a esses filmes, mas, por serem também hidrofóbicos, tendem a se dissolver em substâncias gordurosas. Assim, difundem-se rapidamente através dos próprios alimentos que preservam, formando uma cadeia de magnificação trófica.
Se juntarmos essas ocorrências com diversos outros sinais de degradação do planeta (ver a série de artigos da CH nº 211), não resta muita dúvida de que esse é o momento para ações enérgicas e urgentes que contenham uma verdadeira catástrofe que, longe de se anunciar