Sob a bainha da maré: genero, raça e discriminação interseccional das marisqueiras do recôncavo da bahia

SOB A BAINHA DA MARÉ: GENERO, RAÇA E DISCRIMINAÇÃO INTERSECCIONAL DAS MARISQUEIRAS DO RECÔNCAVO DA BAHIA
Regina Lúcia Portela

Refletir como determinadas práticas possuem um sentido e um significado na vida das mulheres, implica pensar no construto social que as forjou e suas várias dimensões pelas quais o gênero imbrica e no modo pelo qual essas imbricações cooperam para a vulnerabilidade de diferentes grupos de mulheres.
Nesta perspectiva, este artigo pretende refletir acerca da interseccionalidade preconizada pela autora Kimberlé Crenshaw (2002), como uma ferramenta de análise das violações que se produzem na intercessão de gênero e raça sofrida pelas trabalhadoras da pesca tradicional pela sua prática de marisqueira.
Tal interesse surgiu a partir da experiência como bolsista do Programa de Extensão Universitária da Universidade Federal da Bahia intitulado Maré de Saberes do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Sociedade (GEPECS) da Faculdade de Educação, um programa que objetiva pesquisar e construir ações conjuntas nas comunidades de marisqueiras e pescadoras em algumas comunidades do Recôncavo da Bahia , promovendo a pesquisa sobre cultura, memória, saberes e seus significados como processos de construções de aprendizagens na dinâmica da vida social dessas comunidades; além de desenvolver ações conjuntas e coordenadas com essas mulheres com o fito de articular os universos da teoria e da prática, na perspectiva do protagonismo social das marisqueiras e valorização de suas práticas.
A vida das mulheres trabalhadoras da pesca tradicional sempre foi marcada por grandes dificuldades, seja pelo esforço físico de sua prática, caracterizado por extensas caminhadas no lodaçal do mangue, seja pelo longo tempo em que permanecem na catação do marisco, o que causa sérias doenças ocupacionais, seja pela baixa remuneração na comercialização dos produtos coletados no mangue, o que acarreta a desvalorização dessa prática refletindo negativamente