SMOKING
A pergunta fica no ar o tempo todo em Obrigado por Fumar (Thank you for smoking, 2005). O personagem principal, o lobista Nick Naylor (Aaron Eckhart), acredita que sim. Na democracia do consumo, afinal, ninguém força ninguém a comprar nada. Acontece que os fatos - e os seus próprios atos - desmentem Nick Naylor. O lance é saber se ele está sendo sincero, ingênuo ou terrivelmente irônico.
Fazer lobby - representar os interesses de uma entidade e influenciar outras - é uma profissão legalizada nos Estados Unidos. Não que ela seja bem vista, pelo contrário. O caso de Nick é quase cômico. Ele personifica publicamente a indústria do tabaco, ou seja, tenta convencer pessoas e instituições de que cigarro não é ruim. Por que faz isso? Pelo mesmo motivo dos condenados em Nuremberg... Para pagar minha hipoteca, zomba, comparando-se aos nazistas julgados no pós-Guerra.
Falando diretamente ao espectador, em narração em off, Nick é como a voz, o alter-ego, do diretor Jason Reitman, estreante em longas-metragens e filho do diretor de Os Caça Fantasmas, Ivan Reitman. O texto é afiado, equilibra drama e comédia sem nunca ficar rasgado ou meloso demais. Eckhart tem o seu charme, e Nick é indiscutivelmente bom no que faz - tão bom que não é difícil ficar do seu lado.
Na trama, o lobista trava mais uma batalha contra os antitabagistas. O senador democrata Ortolan Finistirre (William H. Macy) quer instituir nos maços a imagem de uma caveira, para mostrar às pessoas que o cigarro faz mal à saúde. Na defesa dos interesses de seu patrão, Nick contesta o senador com base na teoria universal do ser liberal. Diz que só fuma quem quer, que todo mundo sabe que cigarro mata (inclusive todo fumante), e que os fumantes não querem a imagem de uma caveira lhes encarando a toda hora. É a liberdade de escolher.
Mas a briga é desleal: no meio tempo Nick exercita sua persuasão. Paga milhões para que o