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Selvino José Assmann*
Talvez haja poucos autores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que obriguem as gerações sucessivas à dificuldade da interpretação. Por isso mesmo se corre sempre o risco de fabricar um Rousseau à própria imagem e semelhança, o que não deixa de ocorrer parcialmente em qualquer interpretação, e torne todas elas suspeitas. Hà, de fato, um " conflito de interpretações" em torno de sua obra, da sua personalidade complexa e da relação entre obra e personalidade. Não existe, por outro lado uma chave de leitura que nos fundamente um " sistema rousseauniano", uma doutrina definida e definitiva; hà em Rousseau – como declara Ernest Cassirer – " um movimento de pensamento que continuamente se renova, um movimento de tal força e paixão que parece quase impossível, diante dele, refugiar-se na quietude da contemplação histórica ‘ objetiva’" (01). Rousseau é alguém no qual não se deve procurar coerência entre cada uma das obras ou entre as afirmações de uma só obra. É melhor entra em sintonia com esse "movimento", para acompanhar o debate que o Autor faz consigo mesmo, com seus contemporâneos, com a complexa sociedade em crise do seu tempo. Aliás, não se pode querer tornar "racional" a obra de que insiste que os homens não são apenas razão, mas também coração, sentimento, desejo, paixão. Também não parece ser possível entrar na obra de Rousseau e tomar distância: para compreendê-la e senti-la, urge envolver-se nesse movimento sofrido e apaixonado da vida, entre o trágico real e o almejado ideal. Com ele devemos ser capazes de "suportar a contradição" , não a atribuindo – como as vezes se faz – a uma mania de perseguição do Autor ou a alguma excentricidade. Parece-me que só poderão usufruir da riqueza roussieauniana aquele que tomem por lema as palavras de Émile: prefiro " uma liberdade perigosa a uma escravidão tranqüila".
Até mesmo o tormento que se aguça na velhice de Jean-Jacques, a ponto de se