Sertão Veredas
2 – Narração e vida experienciada
Riobaldo, depois das peripécias como jagunço e agora fazendeiro, recebe a visita de um amigo, para quem narra os acontecimentos de sua vida. Em tal narração, a vida vivida se torna vida experienciada como narrativa. O narrar é uma mediação reveladora que se alimenta do vigor da poiesis. Toda poiesis radica na Memória. Esta se torna o núcleo de três vertentes: a vida, o tempo, a estória/história. A estória é estória da vida como tempo dis-cursado. Dis-cursar a vida é experienciá-la em seu sentido. Vida os vegetais e animais também têm, mas sem a experienciação através da Memória narrada. Todo narrar é, pois, a tentativa fundamental de achar o fio da meada do sentido do agir. A vida humana não é uma sucessão de fatos. Unindo-a há o sentido. É este que faz do feito um fato. E é na luz da poiesis como narração que os fatos se tornam acontecimentos. O fato se encadeia cronologicamente, mas só pode haver crono-logia, porque o próprio tempo se revela na e pela Linguagem (Logos). Linguagem é sentido. O tempo desabrochando como sentido é o acontecimento. Este, portanto, precede e funda a cronologia. E pode fundá-la porque a vida, o tempo e a estória se manifestam ontologicamente. A cronologia é o aspecto mais aparente da ontologia temporal. Só por sermos (on- sendo) nos manifestamos como tempo. Só por sermos temporais é que o ser se nos dá. A abertura e a clareira do ser e do tempo se manifestam no homem como Memória. Memória não é lembrança. Só por já sermos desde sempre esquecimento e