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A sociedade contra o Estado
Pierre Clastres As sociedades primitivas são sociedades sem estado, esse julgamento, de fato, em si mesmo correto, na verdade altera uma opinião e prejudica a possibilidade de elevar a antropologia politica como ciência rigorosa. A verdade é que essas sociedades não contem o Estado, que lhes é vital como para qualquer outra sociedade. Essas sociedades são então incompletas e sem ordem e experimentam a dolorosa falta que elas tentariam sempre em vão suprir. De acordo com o que dizem as crônicas dos viajantes ou os trabalhos dos pesquisadores não se pode imaginar a sociedade sem o estado, o estado e o destino de toda a sociedade. Nota-se na abordagem uma fixação etnocêntrica tanto mais solida quanto ela é inconsciente. A principal referencia que temos é o nosso pensamento de que as sociedades existem para o estado. Também temos o pensamento de que a sociedades primitivas não passam de meras espécies a margem da sociedade. Isso nos mostra uma visão etnocêntrica, a convicção complementar de que a historia tem um sentido único e que todos nos estamos condenados a inscrever-se nessa historia e a percorrer suas etapas que, a partir da selvageria conduzem a civilização. O velho evolucionismo ainda permanece intacto, e se percebe que quase sempre, as sociedades arcaicas são determinadas de uma maneira negativa sob o critério de falta, sociedades sem estado, sem escrita ou sem historia, também percebemos que esses povos viviam da agricultura de subsistência e como não possuíam excedentes, logo não possuíam mercados. E com o objetivo de explicar essa incapacidade das sociedades primitivas de ficarem presos no viver do dia-a-dia, dessa alienação permanente na busca de alimentos, invocam-se o subequipamento técnico, a inferioridade tecnológica. Porem se levarmos em conta de que essas sociedades apenas fazem o necessário para sobreviver relativo as suas necessidades então não podemos falar em inferioridade das técnicas das sociedades