Semelhanças entre a mensagem e os lusiadas
Mensagem é um “poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética dos Lusíadas.
Devemos ver as duas obras magnas da literatura poética portuguesa, Lusiadas e Mensagem, como obras situadas no inicio e no terminus do grande processo de dissolução do Império. O humanismo presente n’Os Lusiadas, que se traduz num povo escolhido por Deus para estender um império cristão para Sul, é o mesmo humanismo que traduzido no modernismo dos anos 30 do século XIX vê o homem como instrumento misterioso da mesma obra, embora enquanto homem solitário e já não tanto como povo. Mas uma diferença é crucial, Camões exorta um D. Sebastião ainda vivo, ciente que está de um Império que embora em perigo pode ainda sobreviver e renovar-se, enquanto que Pessoa exorta um D. Sebastião morto, feito já mito e esperança. Seja como for, aqui também está uma semelhança fundamental: ambos os poemas não são saudosistas, mas sim exortativos, renovadores, impetuosamente corajosos. O que os distancia, aproxima-os, de certa maneira. Isto porque, se estudarmos mais fundo as motivações de ambos os poetas, encontraremos – pelo menos parecem ter encontrados os estudiosos – rios antigos com leitos misteriosos. Esses rios chamam-se Sebastianismo, Quinto Império, Mitogenia… De facto, mais do que apenas um império material, da conquista, do ouro e dos escravos, o Império significa tanto para Camões como para Pessoa, um designio maior, mais misterioso. O Quinto Império, noção nascida da Biblia na famosa profecia de Daniel sobre o sonho de Nabucodonosor, é desenvolvida por eles, assim como por outro dos maiores vultos da cultura portuguesa de todos os tempos: o Padre António Vieira, na sua História do Futuro. A intervenção divina na história nacional é tão antiga como a