sem nada a mostrar
Vera da Silva Telles
Universidade de São Paulo – Depto. de Sociologia
Introdução
Como outras grandes cidades, São Paulo vem passando por transformações de fundo. Em uma paisagem urbana muito alterada, ganham forma e evidência tangível as transformações que, nas últimas décadas, afetaram Estado, economia e sociedade. Em seus espaços e artefatos estão cifrados os modos de circulação e distribuição da riqueza (desiguais, mais do que nunca), as mutações do trabalho e das formas de emprego (e as legiões de sobrantes do mercado de trabalho), a revolução tecnológica e os serviços de ponta (e as fortalezas globalizadas da cidade), os grandes equipamentos de consumo e os circuitos de ampliados do mercado (e a privatização de espaços e serviços urbanos). Junto com os intensos deslocamentos inter e intra-urbanos que acompanham as atuais mutações do trabalho e dos espaços urbanos, são transformações que tem alterado tempos, espaços e ritmos da experiência urbana. Alteram-se escalas de distância e proximidade, mudam padrões de mobilidade e acesso aos espaços urbanos e seus serviços, redefinem-se os agenciamentos da vida cotidiana, ao mesmo tempo em que a vida social é atravessada por um crescente universo de ilegalidades, que passa pelos circuitos da também expansiva economia (e cidade) informal, o chamado comércio de bens ilícitos e o tráfico de drogas (e seus fluxos globalizados) com suas sabidas (e mal conhecidas) capilaridades nas redes sociais e práticas urbanas. É nesse cenário contrastado que crescem a pobreza, o desemprego e a precariedade urbana.
Também a violência, quer dizer a morte violenta, morte matada como se diz em linguagem popular. E a tragédia concentra-se nas periferias da cidade. Mas como bem sabemos, todo
1 . Este texto é uma versão resumida de capítulo que compoe o livro “Nas tramas da cidade: trajetórias urbanas e seus
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cuidado é pouco quando de trata de lidar com