Seculo 12
A Filosofia no Século XII* - Renascimento e resistências, continuidade e renovação
José Francisco Meirinhos Faculdade de Letras da Universidade do Porto meirinhos@mail.telepac.pt
O século XII ocupa um lugar próprio na história da filosofia medieval. Explicar a singularidade desta posição tem constituído um excelente motivo para repensar a especificidade e os ritmos da própria filosofia no período medieval.
A lista de factores que permitem compreender as mudanças e a posição que diferencia este período relativamente aos anteriores e aos posteriores é necessariamente longa e quase roça o paradoxo, tão contraditórios parecem[1]. Vejamos a articulação de alguns dos mais importantes, enumerados sob a forma imperfeita do que poderia ser um índice de capítulos que mereceriam só por si extensos desenvolvimentos. Uma recapitulação esquemática das mudanças experimentadas ao longo do século XII e que dê uma imagem mínima da complexidade do que está em jogo não poderá deixar de referir que:
— o crescimento demográfico e urbano conjugado com autênticas revoluções na produção e circulação de bens, operadas nos domínios agrário, industrial e comercial tornam a vida mais independente a uma faixa populacional em rápido crescimento que se ocupa da transmissão dos saberes, bem como das burocracias eclesiástica e dos estados nascentes;
— às novas formas de poder senhorial, comunal ou real, também não são estranhas as reformas monásticas e eclesiásticas que pretendem reafirmar e consolidar a supremacia espiritual e também temporal da Igreja;
— as modificações introduzidas nas formas da vida religiosa, de forma a garantir a sua superioridade moral, a que também já se chamou “reforma”[2], deu um contributo notável para