Salário-drummond-renha crítica

Análise do poema Salário de Carlos Drummond de Andrade Vânia M. Oliveira

SALÁRIO

Ó que lance extrordinário: aumentou o meu salário e o custo de vida, vário, muito acima do ordinário, deu um salto planetário. Não entendo o noticiário. Sou um simples operário, escravo de ponto e horário, sou caxias voluntário de rendimento precário, nível de vida sumário, para não dizer primário, e cerzido vestuário. Não sou nada perdulário, muito menos salafrário, é limpo meu prontuário, jamais avancei no Erário, não festejo aniversário e em meu sufoco diário de emudecido canário, navegante solitário, sob o peso tributário, me falta vocabulário para um triste comentário. Mas que lance extraordinário: com o aumento de salário, aumentou o meu calvário!

Revestido de profunda ironia e utilizando uma linguagem comum, Carlos Drummond de Andrade tece, nesse poema, uma crítica ao sistema político-econômico do país, o qual escraviza e sufoca a classe menos favorecida economicamente da sociedade: a assalariada. O poeta demonstra grande interesse pelos problemas sociais e faz de seus sentimentos um reflexo das angústias e contestações da coletividade. Há todo um sentimento de solidariedade