Rousseau - Carta sobre a Providência
Inicialmente, Rousseau opõe o otimismo filosófico de Pope e Leibniz com o que diz Voltaire em seu poema, cujo fim é justamente atacar esse otimismo (BRANDÃO, 2014). Pope, e Leibniz defendem que os males do ser humano são um efeito necessário de sua natureza e da constituição do universo, e que, de todos os planos possíveis, Deus reuniria os menores males e os maiores bens, não fazendo melhor porque não poderia fazê-lo (ROUSSEAU, 2002, p. 12). Diversamente, Voltaire propugna que Deus, embora indubitavelmente todo-poderoso, poderia evitar todos os males que ocorrem ao ser humano e que a existência deste se daria para se sofrer e morrer (ROUSSEAU, 2002, p. 12). Neste caso, a despeito de refutar o ateísmo, Voltaire, com o que afirma, estaria atacando o próprio Deus.
Rousseau, então, contesta esse tratamento do mal advindo de Deus. Para ele, no que diz respeito ao mal moral, não há fonte deste em outro lugar que não no homem livre, aperfeiçoado, e portanto corrompido (ROUSSEAU, 2002, p. 13). Ademais, mesmo o mal natural seria de responsabilidade do ser humano, como no caso da tragédia ocorrida em Lisboa: estivessem mais bem distribuídos os habitantes da cidade, possuíssem menos coisas, as residências tivessem melhor estrutura e as pessoas fossem menos apegadas às suas posses, o dano teria sido muito menor ou até mesmo nulo (ROUSSEAU, 2002, p. 13).
Com esse exemplo se evidencia que Rousseau exculpa Deus de qualquer responsabilidade pelo mal existente no mundo. O mal é decorrente da corrupção do ser humano. Pode-se falar, assim, em antropologização da questão do mal por parte