Rio são francisco no paraná
Meu espanto ficou evidente no meu rosto, embora eu tivesse ficado mudo. Ela percebeu e, embora estivesse quase certa do que me dissera, prontificou-se a procurar confirmação numa autoridade superior. "Vou me certificar com o comandante", disse. Voltou logo a seguir. "Não é o São Francisco", ela me reassegurou. "É o Paranapanema."
Era uma aeromoça. Para isso, tinha de ter alguma escolaridade -não sei se 1º ou 2º grau. Estudara geografia. Vira o São Francisco nos mapas, rio enorme, que nasce em Minas, na serra da Canastra. Se fosse, como no poema do Alberto Caeiro, o rio da minha aldeia, tudo bem que ninguém soubesse o nome. Nem Caeiro diz esse nome. Rios de que todo mundo sabe são o Tejo ou o São Francisco. Este nasce no meio de Minas e vai para o norte. A gente estava no norte do Paraná. E a aeromoça pensava que aquele era o São Francisco.
Posso jurar que ela não colou para passar de ano. Ela sabia direitinho os nomes. Sabia também olhar os mapas. Nas provas, marcou certo o rio São Francisco. Na escola, tirou dez. Então, como explicar que ela visse o São Francisco no norte do Paraná? A resposta é simples: não foi ensinado a ela que o mapa, coisa que se faz com símbolos para representar o espaço, só tem sentido se estiver ligado a um espaço que não é símbolo, feito de montanhas, rios de verdade, planícies e mares. Saber um mapa é ver, pelos símbolos, o espaço que ele representa. Pobre aeromoça! Se o avião caísse, ela pensaria que estava caindo ao lado do rio São Francisco e invocaria o