Revolução dos bichos
MARLI WALKER, Marta Helena Cocco e Lucinda Persona são poetisas atuantes em Mato Grosso. Com pelo menos seis livros publicados, Lucinda Persona faz reverberar em sua poesia um sujeito lírico marcado pelas ausências, ausência do gozo, ausência das estações, espaços sobrando junto de si. Esses espaços extras que sobram no sujeito atravessam sua poética e tornam, o que aparentemente deveria ser uma poética do “vazio”, uma poética da imagens em desconstrução, como uma espécie de “vir a ser”, de um desejo de tornar-se que, se por um lado, projeta-se para o futuro, mas inunda mesmo é o presente discursivo do eu lírico. Nesse sentido o corpo está sempre gravitando na tentativa de preencher os espaços que que marcam isolamentos. Enquanto isso, Marta Cocco, que nos últimos dez anos publicou 7 livros, revela um eu lírico prostrado diante do tempo, que ora baila nele, aproveita-se dele, ora sentencia-o como sua prisão. Na esteira dos conceitos de Stuart Hall (2000), Marta Cocco, fragmenta o sujeito que apresenta. Mas não fragmenta apenas o presente, faz isso também com o passado. O que isso quer dizer? O passado como narrativa não deveria ser sempre uno? Uma história sem lacunas? Marli Walker tem como elemento discursivo, contrariamente aos outros dois sujeitos, um eu que fala a partir de seu tempo, para interlocutores de seu tempo. Essa sincronia não faz, no entanto, amainar questões que a perturbam, desde aquelas sociais, como a espoliação do corpo no trabalho escravo praticado em sua terra, até a dicotomia de entrega e/ou recusa de si nas relações sexuais. Haveria nas (em algumas) mulheres da contemporaneidade uma espécie de culpa por ter de oferecer seu corpo a quem antes o dominou? Será essa a chama que alimenta esse conflito entre violação e entrega do corpo da escritora contemporânea? Na poesia dessas mulheres que estudamos o corpo não quer mais se prestar ao domínio do outro, por um lado, por outro, os velhos desejos estão na carne e tornam o