Resumo de artigo cientifico .mpb: a trilha sonora da abertura política
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- Música Popular Brasileira" eram extremamente valorizadas pela indústria fonográfica brasileira (Napolitano, 2001). Esse quadro ficaria ainda mais contrastante após 1976, quando se consolidou a "política de abertura",1 do regime militar, como ficou conhecida a estratégia de distensão (e reaproximação política) entre o regime militar e os setores liberais da sociedade civil, levada a cabo pelos dois últimos governos militares (Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo). Consagrada como expressão da resistência civil ainda durante os anos 1960, a MPB ganhou novo impulso criativo ao longo do período mais repressivo da ditadura, tornando-se uma espécie de trilha sonora tanto dos "anos de chumbo" quanto da "abertura". No período que vai de 1975 a 1982, os artistas ligados à MPB afirmaram-se como arautos de um sentimento de oposição cada vez mais disseminado, alimentando as batidas de um "coração civil" que teimava em pulsar durante a ditadura. A MPB tornou-se sinônimo de canção engajada, valorizada no plano estético e ideológico pela classe média mais escolarizada, que bebia no caldo cultural dessa oposição e era produtora e consumidora de uma cultura de esquerda (Miceli, 1994).
Em 1970, sob o impacto do exílio e da censura, Caetano Veloso, em tom premonitório, fez a seguinte declaração ao Pasquim: "O som dos anos 70 talvez não seja um som musical. De qualquer forma o único medo é que esta talvez venha a ser a década do silêncio".
Já em 1980, a crítica musical percebia o quanto o contexto autoritário e a mística da década anterior haviam prejudicado a avaliação mais fria sobre a cena musical brasileira: "Curiosa década, estes anos 70. Depois da fermentação crescente dos 60, entramos nela num clima de expectativas: e agora? E depois? E ficamos tão encharcados de ansiedade que nem vimos a década passar" (Bahiana, 1980, p.151).
Entre uma e outra fala, situadas nas duas pontas da década de 1970, notamos a dificuldade de entender a historicidade específica da cena