resenha

A literatura no Brasil (1955), o autor parte do princípio (próprio do senso comum) de que a obra literária é incondicionada, fruto de inspiração repentina e misteriosa do autor, para desconstruí-lo com base nos fatores que se identificam após análise: em grau de importância, releva os internos antes dos externos; no entanto, ocupa-se destes últimos, justamente devido à pouca atenção que, na época de seu escrito, costumava ser-lhes dada.
Partindo, assim, de “um ponto de vista mais sociológico do que estético”(p. 83)e da premissa de [literária] é que “a criação eminentemente relação entre grupos criadores e receptores de vários tipos” (ibidem itálico original), Candido destaca o papel social do escritor, cuja materialidade da obra dependerá dessa tensão entre a sua subjetividade e a resposta ao meio. Nessa perspectiva, em contraposição a uma atitude unilateral, que considerava preferencialmente a ação do meio sobre o artista – e aqui o autor pode estar se referindo à sua tese de livre-docência,Introdução ao Método Crítico de Sílvio Romero, de 1945–, Candido propõe uma atenção mais viva ao dinamismo da obra, manifesto na ação que a obra exerce tanto sobre o público quanto sobre o autor, seja no momento da sua criação ou na posteridade.
“A literatura é pois” –define Candido (p. 84) –um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a.”Imbuído, então, simultaneamente das posições de crítico e de sociólogo, o autor procura explicitar as relações entre a tríade autor-obra-público, “partindo da hipótese de que, sob tal ponto de vista, a produção daobra literária deve ser inicialmente encarada com referência à posição social do escritore à formação do público.”Ibidem). Após descrever como se configuram os papéis do escritor e do público, explicitando suas condições de existência, mostra como a ausência ou presença destes dois elementos podem decidir a