resenha
Márcia Maria Menéndez Motta**
Resumo
O artigo discute os debates das interpretações sobre história e memória em suas múltiplas dimensões. Para tanto, a autora destaca as várias memórias existentes e os elementos que as constituem. Ao enfocar a questão da memória, é analisado o processo de sua construção e a produção da amnésia social, enquanto campo produtor de esquecimento coletivo. Nas considerações finais, destaca-se o papel do historiador enquanto deslegitimador de memórias nacionais, exemplificando com as questões que envolvem os conflitos de terra no país.
Palavras-chave: história e memória, amnésia social, memória nacional.
Cadernos do CEOM - Ano 16, n. 17 - Memória social
Introdução
O episódio do massacre de Civitella – objeto de pesquisa de estudiosos de várias nacionalidades – nos ajuda a iniciar a discussão sobre história e memória, tema deste artigo. Nos debates acerca do massacre de Civitella estão algumas das principais questões sobre o papel da memória na construção de uma identidade de grupo e o confronte entre memórias de grupos sociais em oposição.
O massacre ocorreu em 29 de junho de 1944 e foi, em suma, o assassinato de 115 civis da cidade italiana de Civitella cometido pelas tropas de ocupação alemã. A tragédia foi uma represália do exército alemão, em decorrência do assassinato de três de seus soldados, cometidos por membros da resistência italiana.
O que parece ser mais umas das tristes histórias do período nazista produziu duas memórias em confronto. Para os sobreviventes, viúvas e filhos das vítimas, há uma memória que se consagrou e se consagra pela negação do papel da resistência naquela cidade, responsabilizando os membros dos partisans pela morte de seus entes queridos. Para eles, portanto, há uma memória que se afirma pela culpabilidade do grupo que visou resistir, irresponsavelmente, à ocupação alemã. Para a memória oficial, ao contrário, o massacre deve ser visto como um importante