Resenha o destino de uma vida
Jessica Lange faz Margaret, uma assistente social, casada, aparentemente bem casada, com marido atencioso – embora tenha uma amante; e esse parênteses, embora longo, é necessário. Bem no começo do filme, nos primeiros 15 minutos, aparece uma cena rápida em que ela liga para ele dizendo que vai ter uma tarde de folga; ele está no trabalho; dá uma olhada para uma mulher que está ao fundo da cena, e diz ao telefone que não pode deixar o trabalho. A cena mostra a sensibilidade desse diretor. Basta isso, basta apenas essa cena para o espectador perceber que o marido tem uma amante. Mais tarde, muito mais tarde, no tribunal, o advogado da parte contrária trará à baila a amante do marido. De cuja existência, obviamente, a mulher não tinha a menor idéia.
Pois bem. A renda mensal de Margaret e seu marido atencioso porém infiel é boa, o padrão de vida é alto, moram numa bela casa de um subúrbio distante de Nova York, têm uma filha no início da adolescência com todas as características de uma menina em início da adolescência de padrão de vida alto. Por uma dessas coincidências da vida, a assistente social topa, no hospital em que trabalha, com um bebê negro, abandonado pela mãe numa caixa de lixo com três dias de idade.
O filme começa com um longo plano feito de helicóptero sobre Nova York – e o plano lembra muito, e provavelmente por intenção, mesmo, o plano inicial de West Side Story. Vemos os arranha-céus riquíssimos da capital do planeta, à noite. Depois vamos nos afastando da parte rica de Manhattan, em direção à periferia, aos cortiços. Aí temos a cena em que a mãe, Khaila (Halle Berry), abandona a criança. Ela vive num cortiço de negros lumpen, drogados, aquela miséria absolutamente miserável que a gente conhece bem aqui no Brasil, mas que está lá, a poucos quilômetros da Times Square, do centrinho da capital do mundo. A mãe está precisando de crack, e por isso deixa o bebê em uma caixa junto às latas de lixo. Corta, estamos