RESENHA “O Amor Irrealizado em Álvares de Azevedo”
“O Amor Irrealizado em Álvares de Azevedo”
Álvares de Azevedo, poeta paulista da segunda fase do Romantismo brasileiro, viveu apenas 21 anos, mas deixou uma obra representativa, embora pouco numerosa. Destacam-se, sobretudo, os seus poemas ultrarromânticos, que evocam permanentemente a figura da mulher pura e intocável – o objeto de estudo deste ensaio, que defende a tese de sua irrealização amorosa. Na maior parte dos poemas de Álvares de Azevedo, a mulher figura como objeto de incontido desejo, sempre, porém, num plano inatingível. Tão nítida parece a sua irrealização, que a crítica muito investiu na sua interpretação, sem chegar, entretanto, a um consenso sobre suas motivações. Mário de Andrade, no ensaio Amor e Medo (1974 p.197-229), afirmou que o poeta repugnava o amor carnal por causa de sua fixação amorosa na imagem da mãe, por quem tinha um amor anormal. Como as poesias de Álvares de Azevedo são, em grande parte, confessionais, percebemos nelas alguns testemunhos dele próprio sobre sua vida, seus desejos e frustrações, o que instigaram a perquirir se essa irrealização no amor procede ou constitui apenas mais um tema de sua poética ultrarromântica. A análise inicia-se pela constante alusão à mulher adormecida, inatingível, cuja presença é sempre clamada, idealizada, sem qualquer dado concreto que possa materializá-la, portanto, os textos revelam nitidamente os anseios de um homem para quem o amor não ultrapassou a dimensão platônica. O seu clamor não era apenas pela presença física, mas por um sentimento individualizado que, através dela, invadisse-o e preenchesse seu mundo feito apenas de meras divagações. A história dos seus amores está sempre vinculada ao amor platônico; não se sabe de uma paixão real, plenamente vivida. Constam nomes de mulheres em seus poemas, mas nenhum constitui a chave deles. Entre as mulheres constantemente evocadas está a mulher adormecida. A mulher adormecida guarda toda uma