Resenha: Filme V de Vingança.
Certas coincidências do destino emergem para provar algo. Em minhas andanças pelas livrarias, em busca de uma HQ para nutrir meu vício, eu me deparei com uma edição de V de Vingança, em volume único, colorida e com materiais extras, relançada pela Panini Comics em 2012 no Brasil. Eu assisti à belíssima adaptação cinematográfica há muitos anos, então não me lembrava de detalhes da história, mas sabia que ela girava em torno de um mundo pós-nuclear, dominado pela censura e pelo Fascismo. Então o tirei da vitrine e levei para casa.
Demorei duas semanas para ler todas as 267 páginas e, ao longo desse processo de leitura, na mídia nacional emergiram os casos da Marcha da Família, do deputado Jair Bolsonaro e a discussão em larga escala sobre a questão da liberdade sexual e corporal da mulher. Pode parecer que estou divagando a esmo e fugindo do tema principal que é V de Vingança, mas esse não é o caso. O mundo criado por Alan Moore e David Lloyd é intolerante, misógino, racista, repressor, violento e trágico. E, diante disso, todo o panorama brasileiro de implosão crítica perante a questão do elogio à ditadura militar, a defesa dos valores familiares conservadores cristãos e a repressão machista contra a liberdade feminina servia de catalisador para intensificar a mensagem e força da narrativa de V.
O enredo futurista (a primeira edição da HQ foi lançada em 1988) tem início na Londres de 1997, nove anos depois de o mundo ter sofrido vários bombardeamentos nucleares, tornando-se um cenário soturno; de a Europa ter sumido e a capital inglesa ter sobrevivido. Sem governo central, gangues/facções/quadrilhas passaram a disputar o poder e a Coalização Fascista Nórdica Chama assumiu a autoridade, tomando o controle da mídia, construindo campos de concentração e reprimindo minorias raciais, sexuais e os divergentes ideológicos. Nesse contexto