Resenha do livro a desastrada maquinaria do desejo
Do desejo à desastrada maquinaria
Por João Carlos Tavares*
O livro Desastrada maquinaria do desejo, de Mônica Genelhu Fagundes, lançado pela editora Porto de idéias em 2009 é parte da tese de doutorado de Fagundes. Nessa obra a autora se propõe a fazer uma crítica literária de Prosa del observatorio de Julio Cortazar.
Prosa del observatorio é um texto que se coloca em múltiplos diálogos. A obra dialoga com a astronomia, com a filosofia, com a fotografia, com as literaturas em geral (inclusive com outros textos de Cortáza), com a mitologia. Assim, essa prosa é uma verdadeira prosa de uma Babel organizada que, ao contrário da Babel bíblica, se entende e se funde. E é com essa Babel que Mônica Genelhu se propõe a dialogar em Desastrada maquinaria do desejo. O resultado não poderia ser outro: O livro não é apenas um dialogo entre Genelhu e Cortázar, mas um multidiálogo entre todas as vozes contidas em Prosa del observatorio e a análise crítico-artística de Genelhu. Seu texto não perpassa pela mera crítica literária; é sobretudo uma simbiose entre crítica-e-arte literária, de onde não se pode separar mais o elemento crítico do elemento estético. Sua linguagem é dialética, dialógica e artística a todo o momento. A obra de Genelhu não é apenas mais um falar sobre Cortazar, mas sim, nos termos de Eduardo Portela, um falar com Cortázar, pois “procura ser ela mesma uma criação, mas uma criação peculiar, alimentada pela idéia de que não se fala sobre literatura de fora da literatura.” (PORTELA, 1981: 147).
Genelhu começa seu texto a partir da etimologia da palavra máquina (machina, ae – mekhane, ês). Dessa forma a autora começa a conduzir o leitor ao mundo cortazariano a partir da célula mínima – a palavra – e vai adentrando até o plano do texto verbofotográfico, em que a fotografia – assim como em Prosa del observatorio – está não