resenha do livro 1889
UMA DEMORADA E RUIDOSA SALVA de palmas acolheu o advogado
Antônio da Silva Jardim no plenário da Câmara Municipal de Campinas, interior de São Paulo, na noite de 26 de fevereiro de 1888. O orador acabara de chegar de Santos, onde morava, e trazia uma mensagem radical para a plateia ali reunida: a execução sumária de membros da família imperial brasileira que eventualmente resistissem à troca da Monarquia pelo regime republicano. Na opinião de Silva Jardim, os republicanos deveriam aproveitar o ano seguinte, primeiro centenário da Revolução Francesa, para instalar o novo regime. À família imperial seriam dadas duas opções. A primeira, o exílio, na Europa de preferência. A segunda, em caso de resistência, morte em praça pública em nome dos interesses nacionais. Lembrava que, em 1789, os revolucionários parisienses haviam executado na guilhotina o rei Luís XVI e a rainha Maria
Antonieta, entre outros nobres franceses. A atitude, segundo ele, deveria guiar os brasileiros nas difíceis decisões a serem tomadas nos meses seguintes.
— Execução? Sim, execução! — afirmou Silva naquela noite, o olhar fixo na plateia. — Matar, sim, se tanto for preciso; matar![156]
O inflamado discurso de Silva Jardim era parte da propaganda republicana, que àquela altura empolgava os brasileiros mais bem informados e moradores dos grandes centros urbanos. Em 1889, havia em todo o Brasil 237 clubes republicanos, 204 dos quais concentrados nas províncias do Sul e do
Sudeste. Um total de 74 jornais pregava abertamente a queda do Império e funcionava livremente nas diversas regiões.[157] Alguns tinham nomes curiosos, como O Mequetrefe, do Rio de Janeiro. Outros títulos indicavam a sua tendência revolucionária, caso de O Combate, O Atirador Franco e A Revolução. Os mais importantes, cujos artigos causavam grande repercussão na corte, eram a Gazeta de Notícias, dirigida por Ferreira de Araújo, o Diário de Notícias, que tinha Rui
Barbosa como colaborador, e