Resenha do filme Shortbus
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É um fato pertencente ao senso comum que a realidade pode ser fabricada, embalada e comercializada. Em nosso mundo interconectado e digital somos confrontados por uma infinidade de imagens destinadas a influenciar-nos a comprar certas realidades. Não há imagens mais prevalentes ou artificiais do que as de sexo como produto. Elas permeiam a cultura ocidental, especialmente a norte-americana. Seja em estratégias de marketing, romances, cinema, TV ou até em vídeos de canais do youtube: fazemos parte de uma sociedade puritana que se alimenta de ilusões de sexo.Desde os contos de fadas utopicamente românticos de Hollywood até a estúpida olimpíada sexual que caracteriza a pornografia contemporânea, sexo é representado como uma habilidade a ser dominada em uma busca individualista para ser o melhor, o número um. Comumente as relações interpessoais resumem-se a jogos mentais que envolvem regras prescritas para que se obtenha “sucesso”, e a busca da satisfação sexual centra-se em “completar uma lista” ao marcar vários atos e/ou práticas necessários para sentir-se bem consigo mesmo. Se falharmos em executar as fantasias ao nível idealizado, há sempre uma nova pílula farmacêutica (por um preço) para nos deixar excitado, renovar o vigor, ou para afastar nossas ansiedades. Se sentimos que nossas habilidades interpessoais precisam de melhorias, há sempre o conselho de um novo guru (em uma infinidade de embalagens: livros de autoajuda, programas de TV, religião, etc.), ofertado por uma taxa, disponível para aliviar nossas ansiedades. Imagens corporais irreais, tão destrutivas para o desenvolvimento da nossa autoimagem e autoconfiança, têm seus efeitos dobrados pelas expectativas irrealistas dos mitos sexuais contemporâneas. Além do mais, a sexualidade é muitas vezes entendida como um aspecto particular e sacrossanto da nossa identidade. Fragmentados, isolados e impermeáveis, tornamo-nos alvos mais fáceis perante mitos irreais e fantasias românticas.
Shortbus, filme dirigido