Resenha do capítulo de Macunaíma "Carta pras icamiabas"
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
LITERATURA BRASILEIRA I – Prof. Yudith Rosenbaum
MACUNAÍMA – BREVE ANÁLISE DO CAPÍTULO IX:
“CARTA PRAS ICAMIABAS”
“Sou um tupi tangendo um alaúde!”
Mário de Andrade, O Trovador
“És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos”
Olavo Bilac, Música Brasileira
“Macunaíma”, a obra mais popular de Mário de Andrade foi, indiscutivelmente, um dos pontos altos do nosso movimento modernista. O autor de “Pauliceia Desvairada” soube reconstruir diversos mitos presentes no folclore brasileiro dentro de um molde clássico da cultura ocidental, a rapsódia, que naturalmente pintou-se de verde e amarelo e retomou um diálogo secular com as raízes da nossa cultura.
O leitor da obra há de se deparar com um herói que de herói não tem nada; uma personagem cujas malícias e ambições encontram na voz do rapsodo sua mais clara expressão, e cujas ações contraditórias, dignas de um Leonardinho pintado por Dalí, refletem seu caráter duvidoso – ou mesmo a ausência de um caráter.
Lê-se “Macunaíma” com inicial estranheza. O vocabulário, um misturado de expressões indígenas, negras, europeias, ou seja, um misturado tipicamente brasileiro, custa a ser absorvido nas primeiras páginas; as viagens inter-regionais consumadas em poucos minutos chegam a assustar e a fazer rir. A própria descrição de Macunaíma, que abarca traços das três identidades do povo brasileiro é, a princípio, um motivo de espanto. Contudo, quando a leitura pega no tranco, a proposta de Mário começa a ficar clara: fazer do Brasil continental um sambódromo onde todas as formas do ser brasileiro se encontrem e se devorem.
Enfim, a linguagem coloquial e miscigenada do rapsodo passa a fazer sentido. Capítulo vai, capítulo vem, chega-se ao nono, intitulado “Carta pras Icamiabas”. Trata-se de um documento redigido por Macunaíma para as índias em questão, no qual ele, entre