Resenha (Disparada)
Feeburg
“Disparada” (Geraldo Vandré e Jair Rodrigues) - 1966, premiada música no Festival da Canção Brasileira daquele ano, relaciona, em metáforas, a vida de um boiadeiro com a “tirania” do Regime Militar. Como em outras obras de sucesso, os autores e intérpretes expressam suas opiniões mascaradas em refrões que oscilam entre momentos de concentração e euforia. Hoje podemos ouvir essas palavras e não discernir o que, para os militantes, servira como um grito de protesto, o teor de cada refrão, confundindo a mensagem contida com a simples vida de um boiadeiro ou quem sabe, até, um capítulo à parte da famosa novela “O Rei do Gado”.
Em sua música, os autores demonstram sua insatisfação com a organização exercida pelas lideranças, bem como o seu “despertar“ para o envolvimento com a causa. Em um literal “formato” de disparada, a música sofre uma aceleração entusiasmante, em seu ritmo, ao chegar no ponto de lembranças de suas trajetórias e assim segue no momento que são expressas suas visões contrárias ao comando e o pouco caso com aqueles que o seguem, mostrando, com isso, seu propósito, não o de conscientizar pessoas com opiniões adversas a sua, mas sim, incentivar os simpatizantes com a causa – “Se você não concordar não posso me desculpar... Vou deixar você de lado, vou cantar em outro lugar”.
Eu recomendo que essa música não seja apenas ouvida, mas sim, estudada, e re-ouvida mais vezes, para que o seu propósito escondido na figura de um boiadeiro possa ser abstraído, e essa intrigante e revoltante parte da história brasileira possa ser lembrada e jamais se repita.