Resenha de doze contos peregrinos
O esforço de escrita de um conto é tão intenso como o de começar um romance. Porque no primeiro parágrafo de um romance tem de se definir tudo: estrutura, tom, ritmo, extensão, e por vezes até o carácter de uma ou outra personagem. O resto é o prazer de escrever, o mais íntimo e solitário que possa imaginar-se…
O conto, em contrapartida, não tem princípio nem fim: pega ou não pega. E se não pega, a experiência própria e alheia dizem-me que na maioria dos casos será mais saudável começar de novo por um caminho diferente, ou deitar tudo fora.
Pois é, estes doze extraordinários contos – histórias de solidão – foram selecionados pelo autor, de entre os muitos que escreveu durante duas dezenas de anos. Num belíssimo prefácio, ele explica o que o levou a escrever pequenas histórias, qual foi o processo de escrita, onde as escreveu, porque as abandonou ao esquecimento, como selecionou estas doze, o prazer que tirou da sua escrita.
São histórias amargas de seres solitários, onde personagens imaginados se cruzam com personagens da vida real, numa Europa do pós-guerra.
São histórias brilhantes de amor, poder e morte, um retrato de costumes recriado com sensibilidade, ironia e humor.
As doze histórias são inesquecíveis mas, na impossibilidade de escrever sobre todas, destaco:
”Maria dos Prazeres”, a história de uma mulata esbelta de setenta e seis anos, há mais de cinquenta anos a exercer a profissão de prostituta em Barcelona, e que na sequência de um sonho que lhe revelou a sua própria morte, decide acertar com um agente funerário todos os pormenores do seu funeral.
“A Santa”, a história de