Resenha crítica sobre o infanticídio indígena
A sociedade brasileira foi fruto de um processo de miscigenação cultural, étnico, religioso durante cinco séculos. Nesse contexto, a população indígena teve e ainda tem um papel fundamental, pois conservam até os dias de hoje parte de suas crenças e costumes.
Uma prática que nos leva ao questionamento são os infanticídios praticados ainda por 20 etnias indígenas. Essa prática leva à morte gêmeos, filhos de mães solteiras, crianças com deficiências ou doenças não identificadas pela tribo. Uma história que comove e nos faz pensar em todos os valores envolvidos – o direito à vida, o respeito às tradições e à cultura dos índios – é a da menina Hakani.
Hakani nasceu em 1995, filha de uma índia suruwaha. Nos primeiros dois anos de sua vida ela não se desenvolveu como as outras crianças – não aprendeu a andar nem a falar. Seu povo percebeu e começou a pressionar seus pais para matá-la. Seus pais, incapazes de sacrificá-la, preferiram se suicidar, deixando Hakani e seus quatro irmãos órfãos.
A responsabilidade de sacrificar Hakani agora era de seu irmão mais velho. Ele levou-a até a capoeira ao redor da maloca e a enterrou, ainda viva, numa cova rasa. O choro abafado de Hakani podia ser ouvido enquanto ela estava sufocada debaixo da terra.
Em muitos casos, o choro sufocado da criança continua por horas até cair finalmente um profundo silêncio – o silêncio da morte. Mas para Hakani, esse profundo silêncio nunca chegou. Alguém ouviu seu choro, arrancou-a do túmulo, e colocou nas mãos de seu avô, que por sua vez levou-a para sua rede. Mas, como membro mais velho da família, ele sabia muito bem o que a tradição esperava dele.
O avô de Hakani tomou seu arco e flecha e apontou para ela. A flechada errou o coração, mas perfurou seu ombro. Logo em seguida, tomado por culpa e remorso, ele atentou contra a própria vida, ingerindo uma porção do