Resenha Critica Do Livro Visconde Partido Ao Meio
A obra veio compor com O cavaleiro inexistente e O barão nas árvores uma trilogia a que Ítalo Calvino (1923-85) chamou de Os nossos antepassados, uma espécie de árvore genealógica do homem contemporâneo, alienado, dividido, incompleto.
Esta fábula de Calvino, foi escrita após a experiência da segunda guerra, no meio do século que nasceu sob a influência da psicanálise de Freud e em um mundo que a filosofia convencionou por chamar de “desencantado”, não poderia estar livre dos desígnios do tempo. Ao contrário do formato tradicional, cuja mensagem moral é explícita – muitas vezes até explicada separadamente, no final – o drama do Visconde di Terralba não traz a panacéia universal que cura os males dos homens em determinada situação e os orienta na conduta; apenas exprime, de maneira alegórica, a angústia do homem contemporâneo, “mutilado, incompleto, inimigo de si mesmo”, nas palavras do autor.
Assim, o primeiro impulso de leitura, o de situar as duas metades do Visconde no mesmo universo de interpretação de Jekill e Hyde (da obra O médico e o monstro), um bom, o outro mal, pode ser precipitado. Não é esse, segundo o próprio Calvino, o viés correto, pois essa duplicidade, mais que um fim da narrativa, foi apenas um meio, um artifício encontrado pelo ficcionista, para diferenciar os diferentes viscondes da trama. Fosse esse realmente o tema principal, poderia-se considerar infantil o resultado, de tão evidente e explícito o recurso escolhido para nos mostrar a duplicidade de caráter e de comportamento da personagem principal.
A semelhança com a novela de Stevenson existe, porém, em outros aspectos. A Inglaterra da segunda revolução industrial, com