Repetição e Tempo
Ana Maria Fabrino Favato*
A dimensão que Freud dá ao tempo é fundamentalmente metapsicológica. Seu interesse pelo tempo não é de ordem psicológica e nem filosófica. Ou seja, o tempo se torna importante para Freud na medida de sua articulação com o inconsciente e de sua participação na estrutura da neurose. Senão vejamos.
Bem no início de sua Arquitetura da histeria (FREUD, 1897, Rascunho L, p. 336), a temporalidade está implicada na dinâmica da causação da neurose, sendo as fantasias histéricas derivadas de coisas que foram ouvidas mas compreendidas posteriormente. Assim o objetivo da análise seria o de chegar retroativamente às cenas primárias, ou seja, alcançar o que foi ouvido, visto e utilizado subseqüentemente como proteção, sublimação dos fatos e auto-absolvição. Dentro desta lógica, o recalque e a formação dos sintomas representam mecanismos que ocorrem posteriormente, ou seja, num tempo retardado em relação ao momento do acontecimento traumático das cenas primárias que acontecem antecipadamente. O que o sintoma sinaliza para o sujeito é justamente a irrupção súbita e simultânea de um antes e um depois, que reduz o tempo ao efeito de sujeito na psicanálise.
É preciso bem destacar que a concepção de Freud sobre o tempo na constituição do sujeito psíquico vem acompanhada de estados de desenvolvimento da libido apoiadas numa temporalidade cronológica e linear que obedece à lógica da sucessão. Como determinante da estrutura clínica, Freud desenhou na “regressão temporal” o índice próprio da histeria e da neurose obsessiva. É assim que a doença neurótica passa a representar a expressão clara da fuga da realidade pela via da regressão às primeiras fases da vida sexual, período em que o sujeito escapou à renúncia. O retorno a estruturas psíquicas mais antigas pelo retrocesso a um objeto libidinal anterior, especificaria o quadro histérico. Por outro lado, um retrocesso da própria libido a modos de funcionamento antigos, indicaria a