Relações Nebulosas
12 de agosto de 2013 | 2h 13
RAFAEL ALCADIPANIE E MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA *
Nos últimos dias veio à tona o que parece ter sido uma decisão da Siemens de denunciar supostos desvios e fraudes em licitações para a venda de equipamentos e serviços de manutenção ao Metrô de São Paulo e ao do Distrito Federal e de colaborar com as autoridades brasileiras a esse respeito. A empresa fazia parte de um cartel que, acredita-se, fraudaria licitações. Convém lembrar que a Siemens também tem frequentado o noticiário internacional por implicação em diversos casos de pagamento de propina para obtenção de contratos vantajosos no setor de telecomunicações em vários países, o que já lhe rendeu condenação - e pagamento de multas - na Justiça alemã e na americana, por envolvimento em corrupção. Isso revela o quanto a questão ética nas relações entre as corporações empresariais e agentes governamentais é um problema mundial e independe do estágio de desenvolvimento de cada país.
Para além desse caso, na imprensa internacional surgiram denúncias de pagamento de propinas a médicos e membros do governo chinês com o intuito de abrir novos canais de vendas e aumentar as receitas da gigante GlaxoSmithKline, multinacional britânica do setor farmacêutico. Em julho, suspeitas também foram levantadas acerca de um esquema da Google, da Apple e da Amazon para sonegar impostos, nos Estados Unidos e na Europa.
Estima-se que o Brasil deixe de arrecadar anualmente cerca de R$ 415 bilhões apenas por causa da sonegação. Num momento em que no País as pessoas começam a despertar para cobrar de governos e políticos boa conduta no tocante a gastos públicos, os casos acima citados evidenciam que não são somente os nossos governantes que merecem atenção. As empresas, cujo discurso corporativo ao longo dos últimos 20 anos se voltou para questões ligadas à responsabilidade social, precisam também ser escrutinadas e questionadas pela opinião pública quanto à conduta que adotam