Relações Brasil x Argentina
Relações Brasil-Argentina: uma análise dos avanços e recuos
Alessandro Warley Candeas*
Rev. Bras. Polít. Int. 48 (1): 178-213 [2005]
Introdução Nada há de original em afirmar que as relações Brasil-Argentina foram erráticas durante grande parte da História. A real dimensão das convergências e divergências é, contudo, menos evidente. Neste artigo se tenta examinar os avanços e recuos da relação bilateral, conforme esquematizado no gráfico a seguir. A diplomacia argentina responde historicamente a impulsos contraditórios de dependência e autonomia, isolacionismo e protagonismo. Entretanto, como nota Juan Carlos Puig, por trás dessa
“incongruência epidérmica” há uma “coerência estrutural.”1 Neste artigo se indaga a existência de “coerência estrutural” por trás das “incongruências epidérmicas” da política argentina em relação ao Brasil. Essa questão suscita duas outras: 1. o relacionamento com o Brasil é determinado pela estratégia de inserção global ou regional da Argentina? 2. a política interna argentina influencia sua postura em relação ao Brasil?
* Diplomata de carreira. As opiniões expressas neste artigo são estritamente pessoais (alessandro. candeas@mec.gov.br). 1 PUIG, Juan Carlos. La política exterior argentina: incongruencia epidérmica y coherencia estructural. In: PUIG, Juan Carlos (comp.). América Latina: políticas exteriores comparadas.
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Alessandro Warley Candeas
As aproximações entre Argentina e Brasil ocorreram até os anos 70 de forma irregular – perpassando regimes tão diversos como os de Urquiza,
Mitre, Roca, Sáenz Peña, Justo, Perón e Frondizi – e se intensificaram desde os anos 80 – passando igualmente por governos tão díspares como os de Videla, Alfonsín, Menem, Duhalde e Kirchner. Essa constatação sugere que a natureza do relacionamento com o Brasil passou de conjuntural a estrutural, independentemente do regime político (ditadura, democracia) ou da situação econômica