Relação de indivíduo e pessoa com o dilema brasileiro, análise feita a partir da obra: fé em deus e pé na tábua, de roberto da matta.
Roberto Damatta, ao analisar o trânsito na sociedade brasileira, bem como as formas de se ritualizar no Brasil, seja pelo carnaval, pelas procissões ou pela parada militar, nos mostra a hierarquização presente na sociedade brasileira, por meio de uma análise minuciosa do comportamento do brasileiro em meio ao trânsito caótico das grandes cidades. O Brasil é o quinto país com o maior índice de mortalidade no trânsito, 40.000 pessoas, aproximadamente, são vitimadas, e isso não está ligado somente às deficiências estruturais das estradas, à falta de sinalização e à ausência de guardas de tráfego, mas sim a um comportamento intrínseco ao brasileiro, a índole aristocrática. Essa característica é fruto de uma sociedade que fora marcada pela Monarquia e pelo Escravismo - durante todo o século XIX- onde a subordinação e a coerção imperavam, já que qualquer desrespeito aos preceitos estabelecidos pelo Rei seria visto como um insulto à imagem do mesmo ( Honra), pois o espaço público confundia-se com o privado. Essa nossa tendência à monopolização permanece enraizada na cultura brasileira, seja na forma de se impor diante de um indivíduo “inferior” ou na própria elaboração e manipulação das leis, como observado em nosso direito positivo moderno. Diante disso, é perceptível a dificuldade de se manter as relações de cidadania, já que o individualismo (ligada ao egoísmo) exarcebado, típico das sociedades modernas liberais, prevalece sobre a noção de coletivo.
A dificuldade de internalizar as regras igualitárias dificulta a cordialidade, o reconhecimento do próximo como cidadão e o respeito às regras estabelecidas dentro do trânsito. O reflexo disso é o estresse contínuo de pessoas que convivem diariamente em meio a esse caos. Evidencia-se, portanto, um choque entre o espaço marcado pela igualdade, aqui aplicada à noção de rua como um espaço