Recensão crítica Documentário Wang Bing

Recensão crítica de Óscar Apóstolo e Patrícia dos Santos

“O dinheiro do carvão” de Wang Bing, 2008, 52 min

O filme de Wang Bing, aclamado e premiado documentarista chinês, intitulado “O dinheiro do carvão”, tal como a maioria das obras do proeminente cineasta, centra-se na realidade do quotidiano chinês, despindo-o frente ao mundo e à própria China. Este apresenta-se-nos estranho, distante e por vezes quase insólito, apesar de estar altamente entrosado nas nossas vidas, por via da crescente liberalização e globalização da economia, que permite os acelerados ritmos de consumo ocidentais.
O quotidiano aqui em causa é o dos motoristas de camiões que transportam carvão, recurso natural de importância central na produção energética chinesa. Estes motoristas-intermediários estabelecem a ponte entre dois pólos: ligam os cada vez mais poderosos proprietários das minas - de natureza privada (como é o caso retratado nesta obra) ou estatal, com quem negoceiam o preço a que compram o precioso combustível; aos compradores desta matéria-prima - destino das longas, e cada vez mais caras, viagens que os carregamentos fazem por estradas desgastadas e semi-destruídas, espelho do desinvestimento em infra-estruturas e do ainda subdesenvolvido mercado interno chinês.
No sentido contrário da estrada retornam camiões idênticos, com a óbvia diferença de regressarem vazios, fechando este círculo que gira incessantemente no ‘sentido dos ponteiros do mercado’. As assimetrias de poder negocial neste processo saltam à vista, bem como a vulnerabilidade destes camionistas à flutuação do preço: o preço de compra é decidido numa negociação desigual com o mineiro, e o preço de venda é decidido numa negociação semelhante com o comprador.
As leis do mercado, que em parte coincidem com as da maximização do benefício individual dos agentes que negoceiam nesta cadeia, vigoram na sua forma mais crua e em tempo real no dia-a-dia destes camionistas, condicionando a quase totalidade