Recensao 2

7074 palavras 29 páginas
Fernando Rosas*

AnáliseSocial,vol.XXIX(128), 1994 (4.°), 871-887

Estado Novo e desenvolvimento económico (anos 30 e 40): uma industrialização sem reforma agrária

1. AS OPORTUNIDADES DE UM PAÍS PERIFÉRICO... Independentemente das opções teóricas que se tomem acerca da possível eficácia bloqueadora das situações de dependência económica dos países da periferia europeia relativamente ao «centro» desenvolvido, parece ser empiricamente demonstrável que as situações de crise económica internacional — crises «espontâneas» do ciclo económico ou crises económicas originadas pelos grandes conflitos político-militares mundiais — se encontram associadas, na Europa de fins do século xix e da primeira metade do século xx, a fenómenos ou tentativas de «arranque» auto-sustentado e industrializante por parte das economias periféricas1. O caso português parece ser disso ilustrativo. A relativa animação industrial da última década do século xix, o pequeno «surto» industrial subsequente ao primeiro pós-guerra, a ofensiva doutrinária industrialista e algum dinamismo industrializante que se sucede à depressão de 1929, nos anos 30, ou os sucessos teóricos e depois, em parte, práticos das teses de «fomento industrial» de Ferreira Dias, nos anos 40, são difíceis de entender fora dos contextos de corte relativo das relações económicas externas tradicionais originados pelas crises internacionais ou pelas guerras mundiais. A crise de 1929, para nos reportarmos ao período cronológico objecto deste trabalho, viu nascer, tendo como pano de fundo o I Congresso dos Engenheiros (1931), a Grande Exposição da Indústria Portuguesa (1932) e o I Congresso da Indústria, com que aquela culminou, em 1933, a primeira teorização moderna da industrialização portuguesa, assente na hidroelectricidade, tendencialmente de mercado interno, substitutiva de importações, proteccionista, repousando nas «indústrias básicas» e na exploração das matérias-primas nacionais e coloniais, «racionalizada» pela

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