Razao
Apesar de não saber exatamente em que época da sua vida isso aconteceu, em algum canto da sua memória, certamente haverá uma vaga lembrança acerca destes episódios, afinal dez anos é um intervalo muito grande para se ter registrado na mente tudo o que se viveu. Entretanto, estes mesmos 3653 dias da última década intensificaram o sentimento de rejeição e abandono de milhares de crianças e adolescentes que estão em instituições de acolhimento, aguardando uma família.
No Estado de Santa Catarina, por exemplo, segundo dados da Coordenadoria Estadual de Infância e Juventude, existem crianças que estão acolhidas há 10 anos. Elas crescem sem vínculos afetivos consolidados, sem a figura de um principal cuidador, e a cada dia veem diminuir a expectativa de receberem um ambiente familiar saudável e protetor. Muitas delas, inclusive, já carregam sentimentos de abandono, têm um péssimo histórico familiar, e foram vítimas de toda forma de violência, sofrendo abusos sexuais e psicológicos.
A estatística, de fevereiro de 2014, não considera crianças acolhidas por período inferior a 2, e nem superior a 10 anos, bem como aquelas consideradas não aptas à adoção. Dados do CUIDA (Cadastro Único Informatizado de Adoção e Abrigo) demonstram que em Santa Catarina há 703 crianças aptas à adoção, e outras 7221 não aptas, em razão de não ter sido extinto o poder familiar dos pais biológicos. Em contrapartida, existem 3339 casais ou pessoas solteiras pretendentes cadastradas.
Numa primeira leitura, esta espera de ambos os lados parece injustificável. Entretanto, estes 703 infantes ainda permanecem acolhidos pelo fato de não se “enquadrarem” nas preferências dos