Rapte-me

Rapte-me!
A minha cegueira tem cor, cheiro, suspiros...não quero mais uma cegueira branca, que tudo e nada vê, talvez sejam as luzes da praça que me tenham embaçado os olhos, que me digam que eu sou cor-de-rosa sem sequer perguntarem a minha cor predileta, quanta ousadia! Eles me criam e recriam, quem sabe eu tivesse nascido um dia antes do meu nascimento, sentiria chuva sem a saborear, desfilaria em uma passarela que nunca pisei, enxergaria esmiuçadamente os detalhes de uma vida que nunca vi, vivi. Pobres robôs, não entendo como ainda são zombados, “somos todos iguais perante a lei”,ou não somos?? Somos os camaleões de uma salada social, ou mil borboletas em uma membrana lagártica. Somos muitos em nós mesmos. Se não tivesse a ficção de ter feito escolhas do meu espetáculo, acharia até que há uma abstração tamanha que as minhas linguagens não conseguem alcançar, mas eu não gosto disso! Desculpa, eu não consigo ser livre, sofro uma revolta cinematográfica no momento, todos me filmam, não consigo ser livre! Se os paradigmas dessa sociedade não me prendem, não me importo, eu crio outros, sou o réu benevolente...me prendo, ou talvez não haja liberdade, ou talvez eu não saiba como alcançá-la, ou talvez eu não a queira. Vamos com calma, tantos pensadores já abalaram a minha autoestima, o velho vizinho também a consegue abalar, mas eu...eu prefiro uma impressão singela de que tomo sim decisões, na verdade eu preciso, na verdade EU TOMO DECISÕES! Ora mais, eu não sei quando a obra terá seu desfecho, e, portanto, não afogarei minha curiosidade em meros conflitos de ficção e realidade, de alguma forma eu consigo existir, simplesmente porque acredito. Se só tivesse assistido a tragédias, choraria. Se só a comédias, talvez achasse que só se vive de gargalhadas. Nesse teatro do atual, que me dá acesso a tantas criaturas, eu absorvo...ou será eu a absorvida? Quem sabe as revoluções da mente sejam enzimáticas, as ideias...elas são tão poderosas, dão vida a criatura, ao meu