A REVOLUÇÃO DOS BICHOS Amenábar, Alejandro e Gil, Mateo; Mar Adentro - O filme, 2004. Ramón Sampedro (Javier Bardem), um ex-marinheiro tetraplégico para quem o sentido da vida se perdeu há 26 anos e que, agora, luta na justiça para legalizar a eutanásia e finalmente poder "morrer com dignidade". Ramón era um mecânico de barcos que aos 20 anos já dava a volta ao mundo e aos 26, num mergulho em águas rasas, instalou-se para sempre numa cama, entre as quatro paredes torturantes de seu quarto. Desde então a vida para ele é uma "humilhante escravidão" e sua única fuga são os sonhos e a vidraça que separa o seu mundo, do alheio. Esse é um drama em que morte e vida digladiam-se o tempo todo e, para nós, que queremos tanto viver, o espírito suicida de Ramón parece incompreensível, até percebermos que a liberdade era o sentido de sua vida e, perdendo-a, o que resta não é mais vida, mas sim, sua migalha. O passado livre e vívido, vem e vai, invadindo sua memória e depois ficando para trás, em preto e branco nas fotografias. Nessas quase três décadas de clausura, houve tempo suficiente para pensar em tudo e decidir-se pela morte, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares. O filme nos torna partidários dessa idéia, quase cúmplices do personagem. Porém, a grande contradição é que nosso suicida seja um homem tão vital, tão lúcido, tão inteligente e sedutor, que recorre sempre ao humor (geralmente negro) e faz o mundo ao redor girar e a vida de todos fazer sentido. Além de também ser dono do sorriso mais encantador da Espanha. E é esse sorriso a primeira coisa que encanta Julia (Belén Rueda), uma advogada que, por causa de sua doença degenerativa, se solidariza com a causa de Ramón. Ela pergunta: "Por que você sorri tanto?". A resposta é desconcertante: "Aprendi a chorar com sorrisos". Logo também chega Rosa (Lola Dueñas), uma operária solitária que o procurou para demovê-lo da idéia, depois de tê-lo visto na TV. E ambas se apaixonam, ao mesmo