quimica
Letrônica
v. 3, n. 2, p. 81-106, dez 2010
A VOZ DO NARRADOR NA LEITURA DO PORMENOR EM TEXTOS LITERÁRIO
E FÍLMICO
Tania Regina Montanha Toledo Scoparo 1
1 Introdução
O romance O Primo Basílio, do português Eça de Queirós (1845-1900), é considerado um clássico da literatura realista-naturalista de língua portuguesa. Enquanto intérprete do
Realismo e do Naturalismo, Eça cultivava o pensamento filosófico e científico da geração de
70 portuguesa. O mundo físico passava a ser visto e avaliado sob o prisma da ciência e da experimentação e os valores místicos e religiosos enaltecidos pelo Romantismo eram veemente atacados. A arte literária era uma arma de combate e de ação social. Eça de Queirós abordava, em suas obras, temas sociais: “a condição do clero, o parlamentarismo, a literatura, a educação, a condição da mulher, o adultério ou o jornalismo” (REIS, 2005, p. 13). Nesse contexto, ele concebeu O Primo Basílio, publicado em 1878, traçando um pequeno quadro doméstico e tendo a família burguesa como objeto de interesse. Esta obra retrata minuciosamente a sociedade portuguesa lisboeta do século XIX. Eça enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com falsas bases morais, pois tem o intuito de questionar uma das instituições sociais tidas como uma das mais sólidas: o casamento. Embora o
Romantismo já tenha trabalhado com o tema do adultério, o autor consegue inovar por meio de sua criatividade e imensa facilidade de mostrar, através das suas personagens, que representam a burguesia, a imoralidade, a educação e a ociosidade de uma sociedade que vive de aparências.
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Mestre em Comunicação, Mídia e Cultura pela Universidade de Marília - UNIMAR. Especialização e
Graduação em letras pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP. Atualmente, aluna no Programa de
Pós-Graduação em Mídias Integradas na Educação na Universidade Federal do Paraná - UFPR. Publicação mais recente é o livro “Machado, Eça e o Cinema”,