Quase deuses
Alexandre Melo de Sousa1
PRIMEIRAS PALAVRAS
É do saber geral que a língua é o principal revelador da cultura e da história de qualquer grupo humano constituído socialmente. E o acervo lexical, como parte significativa da língua, tem sido abordado por diversos pesquisadores, que intentam evidenciar traços, marcas que caracterizem ou revelem matizes sócio-culturais de determinadas comunidades. A Toponímia, ou Toponomástica, é uma das sub-áreas da Onomástica responsável pelo estudo etimológico e semântico dos nomes próprios de lugares (acidentes geográficos físicos e humanos). Dado o alcance interdisciplinar inerente ao seu objeto de estudo – o topônimo – as pesquisas toponímicas (ainda em pequeno número no Brasil) têm adquirido grande valorização entre os ramos científicos, principalmente, os de caráter lingüístico. Os topônimos, como unidades terminológicas que são, comportam em seu bojo características que refletem a cosmovisão de uma sociedade: evidenciam necessidades, revelam interesses, refletem aspectos linguo-culturais, muitas vezes desaparecidos ou desconhecidos pelos membros sociais: trata-se de uma simbiose entre língua e cultura, que desemboca, exatamente, no conhecimento dos fatos revelados por esses signos onomásticos.
1 TOPONÍMIA: DEFINIÇÃO, OBJETO E CAMPO DE ATUAÇÃO
Segundo Dick (1990, p. 19), a Toponímia é “um imenso complexo línguocultural, em que dados das demais ciências se interseccionam necessariamente e, não, exclusivamente. A proposta da Toponímia, de acordo com Rostaing (1969, p. 05) é “rechercher la signification et l’origine des noms de lieux et aussi d’étudier leurs transformations”. Complementando as definições apresentadas anteriormente, vale citar Salazar-
Quijada (1985, p. 18):
[A Toponímia é] aquella rama de la Onomástica que se ocupa del estudio integral, en el espacio y en tiempo, de los