Quando voltei encontrei os meus passos
Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a túmida areia,
A fugitiva hora, reevoquei-a,
— Tão rediviva! Nos meus olhos baços...
Olhos turvos de lágrimas contidas.
— Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes
Ao ponto das primeiras despedidas?
Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...
Toda essa extensa pista— para quê?
Se há-de vir apagar-vos a maré,
Com as do novo rasto que começa...
Explicação do poema:
Camilo Pessanha com este poema pretende transmitir alguma nostalgia, melancolia e tristeza, uma vez que o tema central do poema é o regresso do sujeito poético ao passado, assinalado pelo verso ’’quando voltei encontrei os meus passos’’. Os passos são a forma de despedida e simultaneamente de regresso. A praia é o espaço físico onde a acção se desenrola, isso comprova-se em ‘’ainda frescos sobre a túmida areia’’.
No poema está presente um discurso, iniciado por travessões, introduzindo vivacidade e expressividade ao poema, como se estivéssemos perante uma conversa, ou talvez, um monólogo interior.
O poema termina com a referência à maré que juntamente com os novos passos fazem esquecer os mais antigos. Os passos podem ser interpretados como recordações, transmitindo esperança perante a vida, na medida em que há coisas que acabam, mas que também há coisas que começam.
Análise formal do poema:
O poema é constituído por 1 estrofe com 14 versos. É um soneto monostrófico. Estão presentes dois tipos de rima: interpolada e emparelhada.
Os seus versos são todos decassilábicos.
Recursos expressivos:
Metáfora: ‘’ Quando voltei encontrei os meus passos’’ ‘’ Olhos turvos de lágrimas contidas.’’
Personificação: ‘’ Ainda frescos sobre a túmida areia’’
Adjectivação: ‘’- Tão rediviva! Nos meus olhos baços...’’ ‘’Olhos turvos de lágrimas