Práticas políticas de antigo regime
Práticas políticas de Antigo Regime:
Redes governativas e centralidade régia na capitania de Minas Gerais (1720-1725)1
Introdução
A importância do estudo das redes para a tentativa de interpretação do universo político do Antigo Regime português é incontestável. A diversidade das relações sociais que pairava sobre o campo dos poderes, pela insuficiência do direito oficial da época, conferia legitimidade a práticas políticas consideradas, a primeira vista, informais. Desse modo, como nos advertem António Manuel Hespanha e Ângela Barreto Xavier, as relações do tipo clientelar sustentavam uma interdependência e reciprocidade que garantiam as intenções sociais e políticas individuais. O protagonismo político daqueles homens estava intimamente relacionado a tais aspectos.1 Assim sendo, os oficiais régios que compunham a administração periférica estavam atrelados entre si, a compromissos e a uma teia de reciprocidades que envolvia inclusive a coroa e que desenhava a dinâmica política de então.
Dentro desse contexto de análise, a historiadora Maria de Fátima Gouvêa desenvolveu o conceito de redes governativas. Os vínculos estratégicos estabelecidos entre “um grupo de oficiais régios” fundavam nexos entre as diferentes partes do império, através de indivíduos que compartilhavam entre si laços de parentesco e interesses políticos e econômicos. Propõe-se aqui estudar alguns conflitos estabelecidos na Comarca do Rio das Velhas, capitania de Minas Gerais sob a ótica do estudo das redes governativas. A análise desses conflitos cotidianos, travados entre o governador Dom Lourenço de Almeida e o ouvidor da Comarca, José de Souza Valdes, retrata muito bem as articulações desses homens e dos grupos aos quais pertenciam,